BRASIL

Uma mentira e uma rixa amorosa levaram à proclamação da República

E sim: Deodoro apoiava a monarquia e não acreditava numa revolução republicana.


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  Fonte: Superinteressante - Por Felipe van Deursen

Deodoro da Fonseca - Palácio Pedro Ernesto

Deodoro da Fonseca - Palácio Pedro Ernesto   Foto: Reprodução/Superinteressante/Creative Commons

Postado em: 15/11/2021 às 11:27:04

A Guerra do Paraguai (1864-1870) matou cerca de 480 mil pessoas entre 1864 e 1870. O Paraguai foi devastado. Quase um quarto do território foi perdido para os inimigos, a chamada Tríplice Aliança ((Brasil, Argentina e Uruguai). Cerca de 300 mil mortos, em um universo de até 1,3 milhão de habitantes, o que faz do país o Estado moderno com a maior perda de população causada por um conflito internacional. A poligamia informal se tornou comum. Com tantas viúvas, órfãs e solteiras, o país ficou conhecido como a Terra das Mulheres.

Desde então, a política no Paraguai é um pântano. Somente em 1916, após seis golpes de Estado, um presidente conseguiu cumprir o mandato até o fim. Houve oito revoluções fracassadas. Eleições democráticas, só em 1993. Em 1999, o presidente Raúl Cubas Grau foi acusado de envolvimento no assassinato de seu vice e renunciou. Em 2012, um processo de impeachment que durou menos de 48 horas destituiu Fernando Lugo do cargo.

Se a guerra moldou toda a história do Paraguai, para o Brasil não foi diferente. A vitória transformou o Exército brasileiro em algo que ele nunca tinha sido: uma força política, capaz de bater de frente com a aristocracia do império, caso fosse necessário. O que não demorou a acontecer. Em 1884, o tenente-coronel Sena Madureira, veterano da guerra e comandante da Escola de Tiro Campo Grande, no Rio de Janeiro, recebeu com festa o jangadeiro cearense Francisco José do Nascimento, um dos líderes abolicionistas do país.

O governo considerou um ato de indisciplina, já que a escravidão ainda era lei no país e cabia ao Exército ajudar na captura de escravos que fugiam. Sena Madureira acabou demitido, e trocou farpas na imprensa com o ministro da guerra, o civil Franco de Sá.

A atitude de Sena Madureira foi questionada, mas ele foi defendido por outro veterano do conflito no Paraguai, onde teve uma série de promoções por atos de bravura. O marechal Deodoro da Fonseca argumentou que apenas a discussão pública entre militares era proibida pela legislação. Como o tenente-coronel fora atacado por uma autoridade civil, ele poderia responder à altura.

Porém, antes que o ofício com a defesa de Deodoro, que então era presidente em exercício da província do Rio Grande do Sul, chegasse ao Rio de Janeiro, o novo ministro da guerra, Alfredo Chaves, puniu Sena Madureira. Isso uniu o Exército em solidariedade, e a chamada Questão Militar ficava mais forte. Na época, os militares reclamavam do soldo, congelado por anos, da redução dos efetivos depois da guerra e da falta de modernização de equipamentos, entre outros assuntos. Era demais para uma classe que se via como a salvadora do país.

Em 1889, os republicanos convenceram Deodoro de que o então Presidente do Conselho de Ministros de Pedro II, o Visconde de Ouro Preto, havia expedido uma ordem de prisão contra ele. Não era verdade, mas bastou para que Deodoro juntasse um pequeno batalhão e marchasse pelo Rio de Janeiro exigindo a deposição de todo o ministério.

Deodoro, então, soube que o novo Ministro-Chefe seria Gaspar Silveira Martins, seu desafeto – os dois tinham disputado o amor da mesma mulher na juventude, e viraram rivais para o resto da vida. “Aí já é demais”, Deodoro talvez tenha pensado. O fato é que isso levou Deodoro, que até então não via o Brasil sem a monarquia, a derrubar Pedro II e instituir um governo provisório.

Estava proclamada a República. Graças a uma rivalidade romântica.

E, principalmente, graças à Guerra do Paraguai. Dois anos depois, a República se consolidaria sob o punho de ferro do sucessor de Deodoro: o marechal Floriano Peixoto, outro que ganhou destaque no Exército quando combateu as forças de Solano López.

A história do Brasil República começou ali, e ainda hoje há ecos da maior guerra da América Latina: em 2014, 150 anos após o início do conflito, o Paraguai pediu a devolução de um importante canhão. Mas ele permanece no Museu Histórico Nacional, no Rio.

(Este conteúdo foi originalmente publicado no livro 3 Mil Anos de Guerra, à venda em bancas, livrarias e lojas online)

 

A dor de cotovelo do marechal e a República

No recém-lançado livro 1889, o jornalista Laurentino Gomes levanta a hipótese de que pode ter sido a dor de cotovelo do marechal Deodoro da Fonseca que desencadeou a proclamação da República ? que nesta semana completa 124 anos. O pouco conhecido episódio do ciúme do marechal pela Baronesa do Triunfo também simboliza a tortuosa gênese republicana do país, que produz seus efeitos até hoje na vida pública nacional.

Segundo o relato de Laurentino Gomes, a baronesa Maria Adelaide Andrade Neves Meireles era uma bela viúva gaúcha. Documentos indicam que Deodoro teria se sentido atraído por ela quando governou o Rio Grande do Sul, em 1883. Mas Maria Adelaide escolheu Gaspar Silveira Martins um rival do marechal no amor e na política.

Os destinos de Deodoro e Silveira Martins voltariam a se cruzar seis anos depois, nos eventos que culminaram na instauração do regime republicano. Laurentino Gomes conta que o marechal, em nenhum momento durante o dia 15 de novembro, derrubou a monarquia. Deodoro, que era o líder do golpe militar, tão-somente afastou da chefia do governo parlamentar o Visconde de Ouro Preto, considerado um perseguidor do Exército.

Foi somente na madrugada do dia 16 que Deodoro concordou em instituir a República, como pedia uma ala dos militares insatisfeitos. A decisão do chefe do movimento foi tomada quando ele soube que dom Pedro II havia convocado Silveira Martins para chefiar o novo gabinete. Laurentino Gomes especula que o ciúme do marechal em relação ao rival tenha contribuído para pôr fim ao Império. Sem o prestígio de Deodoro e diante de uma eventual recusa dele em propor a mudança de regime, a nação talvez pudesse ter permanecido uma monarquia.

Assim, a República brasileira teve, nas palavras de Gomes, uma "madrinha secreta". O curioso é que a "musa" da proclamação e os demais personagens envolvidos eram todos da aristocracia rural ou militar. E que a alvorada do republicanismo nacional teve um forte componente personalista. O elitismo e o personalismo, que pouco combinam com uma verdadeira República, continuam a ser marcas da vida pública nacional mais de um século depois.

 

Pós-monarquia

Com a Proclamação da República, a família imperial seguiu para o exílio em Portugal, Espanha, França, Áustria-Hungria. Embarcaram a bordo do vapor Sergipe: Pedro II, Teresa Cristina, Isabel, Gastão, Pedro de Alcântara, Luís Maria, Antônio Gastão e Pedro Augusto. Na comitiva que acompanhava a família, estavam André Rebouças; o Conde de Carapebus ; o barão de Loreto e sua esposa, Maria Amanda Paranaguá Dória; o visconde de Ouro Preto e seu filho, o Conde de Afonso Celso; e o Conde de Mota Maia. Augusto Leopoldo encontrava-se a bordo do cruzador Almirante Barroso, em viagem de circunavegação. O pai desse, Luís Augusto, residia na Áustria desde o falecimento da imperatriz Leopoldina. Além do banimento, o governo republicano confiscou e leiloou muitos dos bens da família imperial. Em 1890, foram realizados treze leilões de bens da casa imperial.

O presidente Epitácio Pessoa, por decreto presidencial de 3 de setembro de 1920, revogou a Lei do Banimento. A família imperial pôde então retornar ao solo brasileiro. A ocasião foi aproveitada para repatriar os restos mortais do último imperador e de sua consorte, que seriam trasladados de Portugal um ano depois. Dos nove membros da família imperial originalmente exilados, somente dois retornaram vivos ao Brasil: Pedro de Alcântara e seu pai, Gastão, falecido no ano seguinte, a bordo do navio Massilia, a caminho do Brasil para a celebração do centenário da independência. Apesar da proibição então em vigor, Luís tentou desembarcar no Rio de Janeiro 1906, mas foi impedido por autoridades locais. Acabou por falecer no ano da revogação da lei do Banimento, em 1920.

(Por Fernando Martins – Gazeta do Povo)

 

Últimos anos e morte de Dom Pedro II

Dom Pedro II tinha o hábito de escrever um diário, e, em 1862, anotou “Nasci para consagrar-me às letras e às ciências”. Isso demonstrava o seu desinteresse pela política e pela administração do império. O imperador preferia os livros às disputas políticas entre conservadores e liberais. Se dependesse de sua vontade, abandonaria a coroa e se tornaria professor.

Na década de 1880, o imperador não estava bem de saúde. Constantemente ele subia a serra em direção a Petrópolis (RJ) em busca de refúgio e que o ar fresco das montanhas lhe devolvesse a saúde. As suas ausências na Corte foram substituídas pela princesa Isabel. Apesar da desconfiança na filha, foi ela quem comandou o império durante as viagens do pai. Inclusive, em 13 de maio de 1888, foi Isabel quem entrou para a História como aquela que assinou a Lei Áurea, abolindo a escravidão no Brasil.

Logo após a proclamação da república, em 15 de novembro de 1889, Dom Pedro II e a família imperial saíram em exílio para a Europa. Apesar da reação monarquista, o agora ex-imperador não esboçou nenhuma vontade de liderar algum movimento contrário aos militares que tomaram o poder. A imperatriz Teresa Cristina morreu na cidade do Porto (Portugal), três semanas após o desembarque na Europa. Mais uma perda que desolou Dom Pedro.

Ele passou seus últimos anos de vida em Paris, hospedado no Hotel Belford. Pedro de Alcântara, segundo e último imperador do Brasil, morreu no quarto do hotel, em 5 de dezembro de 1891, sem ver novamente o país que governou por quase 50 anos. Até hoje, na fachada do Hotel Belford, encontra-se uma placa informando que naquele local Dom Pedro II viveu seus últimos dias.

(Texto extraído do portal Prepara Enem)

 

Os bens da família real são confiscados

Em novembro de 1889, após a Proclamação da República, a família real sai do país para o exílio. Em dezembro daquele ano, o decreto 78-A bane formalmente a família imperial e obriga o imperador a liquidar seus bens em território brasileiro no prazo de dois anos. Um novo decreto do então governo provisório, em 1890, determina que os bens da família imperial sejam incorporados à União. Três anos depois, em 1894, o palácio é confiscado por forças militares e incorporado aos bens da União.

 

 

 

Fotos: Reprodução

 

 

 

 

 

 

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