Três importantes projetos que enriquecem o patrimônio histórico e cultural de Pão de Açúcar
Autora destes projetos de lei, a vereadora Lena Machado conta com o apoio de colegas vereadores e de integrantes do Executivo municipal.

Fonte: Por Helio Fialho

A canoa Georgia e alpercatas Xô Boi feitas pelo sapateiro Dedo. Foto: Reprodução/NQ/Google.
O patrimônio histórico e cultural de Pão de Açúcar fica mais rico e fortalecido com tês projetos de lei, de autoria da vereadora Lena Machado, aprovado pela edilidade pão-de-açucarense, na sessão realizada pela Câmara de Vereadores, em 26 de setembro.
O primeiro trata-se do Projeto de Lei Legislativo nº 17/2025, que dispõe sobre o tombamento da Canoa Georgia como patrimônio material, imaterial, paisagístico e histórico do município de Pão de Açúcar e do rio São Francisco, e o segundo é o Projeto de Lei Legislativo n° 18/2025, que dispõe sobre o tombamento da Toca do Índio e da Sandália Xô Boi como patrimônio material e imaterial histórico do município de Pão de Açúcar.
A reportagem entrou em contato com a vereadora Lena Machado, ela passou informações sobre estes dois projetos e informou, ainda, que o próximo projeto de lei a ser apresentado, nos próximos dias, será o tombamento da tradicional Chegança Comendador Peixoto, folguedo que existe em Pão de Açúcar desde os tempos em que o comércio do município era abastecido através das grandes embarcações fluviais, incluindo o navio Comendador Peixoto e as lanchas Tupi, Tupã e Tupigy. A quase centenária Chegança Comendador Peixoto foi batizada com este nome em homenagem ao navio.
Canoa Georgia. Foto: Reprodução/Google
Considerada uma das mais antigas do estado, a Chegança Comendador Peixoto, desde a sua criação, está presente em festas tradicionais, na cidade de Pão de Açúcar, como: Natal, Bom Jesus dos Navegantes e Sagrado Coração de Jesus. No início alguns nomes muito conhecidos na cidade faziam parte do grupo, dentre esses: Biriba, Edgar Gustavo, Zé Nica, Chicão, Agnelo, José Cardoso da Silva (Zé de Tionila), José Leandro Nascimento, conhecido popularmente como “Gajeiro”, sendo este último um apelido que ganhou e carregou até sua morte, aos 77 anos, em 17/01/2017. Gajeiro refere-se a um marinheiro antigo que trabalhava no mastro de um navio à vela (marinheiro de mastro), subindo até a gávea (o cesto de observação) para fazer a vigilância.
Com o passar do tempo o grupo ficou desativado, sendo reativado, em 2008, pelo mestre Régis Brito, com o apoio da Prefeitura de Pão de Açúcar, durante a segunda gestão do prefeito Cacalo. Desde o seu resgate, o grupo permanece em plena atividade e deu inspiração a Edson Rodrigues Pereira (Mestre Edinho), coordenador do Grupo Girassol, para a criação da Chegança Bom Jesus dos Navegantes.
Toca do Índio
A Toca do Índio não é somente um bar tradicional. É, também, um ateliê e um ponto de encontro e de cultura popular. Foi no início dos anos de 1980 que o ex-jogador de futebol e talentoso sapateiro Edson Rodrigues Lima, conhecido popularmente como “Dedo”, comprou o estabelecimento ao amigo conhecido como “Luiz de Nenzinha”, sendo este o primeiro proprietário. Inicialmente, Luiz de Nezinha alugou ao amigo Dedo que, depois, comprou, contando com a ajuda do irmão Romeu. Neste local, o Mestre Dedo dividia seu tempo atendendo aos clientes do bar e, ao mesmo tempo, confeccionando, por encomenda, alpercata “sertaneja”, conhecida, ainda, como “ Xô Boi”. A perfeição no feitio deste tipo de calçado era tanta, que as encomendas não cessavam e a fama do sapateiro foi crescendo até ficar conhecido como o “rei da Xô Boi” na região.
A Toca do Índio sempre atraiu músicos renomados de Pão de Açúcar, a exemplo dos Irmãos Ramos, Baiaco e outros, que organizavam apresentações enquanto faziam suas farras, atraindo grande público e admiradores.
Há quatro décadas e meia, o estabelecimento é ponto de concentração de canoeiros e pescadores durante as tradicionais corridas de canoas, inclusive com a entrega oficial de premiações aos vencedores, promovida pela Prefeitura de Pão de Açúcar. Isso acontece desde os tempos do saudoso Odilon Rodrigues dos Mártires, conhecido como “Odilon de Terto”, sendo este patriarca da família, o primeiro dono da canoa Georgia. O nome desta embarcação foi colocado em homenagem à sua segunda neta deste patriarca. A canoa foi feita com muito capricho pelo famoso Mestre Neném, da Ilha do Ferro, por encomenda, em 1981.
O secretário Helio Fialho (Cultura e Turismo) entregando o prêmio de campeã ao proprietário da Canoa Georgia, sr. Odilon Rodrigues dos Mártires - ano 1993. Foto: Arquivo de Helio Fialho.
Com o falecimento do proprietário, a canoa passou para o comando do filho Romeu e, logo em seguida, para o neto Dorgival Rodrigues de Lucena, conhecido popularmente como “Doginho”. Ele sempre esteve ao lado do avô Odilon (in memoriam) e do tio Romeu (in memoriam), cuidando muito bem desta embarcação, que já se tornou a grande rainha das canoas do Velho Chico, nesta modalidade.
É importante destacar que a Georgia, desde quando foi construída, venceu quase todas as disputas realizadas dentro e fora do município, tornando-se a grande campeã do Baixo São Francisco, com cinco campeonatos intermunicipais vencidos e um grandioso número de vitórias locais, o que já lhe garantiu quase 200 troféus, sendo este o motivo de atrair muitos torcedores.
A tradição da Georgia é tanta que, a sua ausência em qualquer corrida de canoa, realizada no Baixo São Francisco, pode ser comparada a Seleção Brasileira sem disputar uma copa do mundo – a sensação é a mesma para os torcedores e amantes desta competição.
Alpercatas Xô Boi confeccionadas pelo sapateiro Dedo. Foto: Helio Fialho
Sandália Xô Boi
A alpercata “Xô Boi”, conhecida inicialmente como “Sertaneja”, não tem uma data exata de criação, mas sua origem está no período do cangaço, no sertão nordestino, e foi criada a partir de um pedido do líder Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, a um artesão para um novo modelo de calçado. A alpercata surgiu como uma necessidade de proteção para os pés dos cangaceiros, mas hoje é um símbolo da cultura nordestina e um produto artesanal feito no Nordeste.
Feito à mão por artesãos, muitas vezes com couro natural, o calçado foi criado como uma forma de proteção para os pés dos cangaceiros ao andar pelos caminhos difíceis do sertão. Com o passar do tempo, a Xô Boi popularizou-se e hoje é usada no Nordeste e em outras regiões.
Inicialmente elas foram criadas para os cangaceiros cruzarem as caatingas, porém, atualmente existem diversos modelos, com variações de cores e formatos, inclusive para o público feminino.
O saudoso sapateiro Dedo aprendeu a fazer com esmero os calçados Xô Boi, com conhecimento e prática herdados do próprio pai, que dentre as várias profissões que exercia, foi, também, sapateiro. Dedo recebeu, ainda, a influência dos mestres sapateiros: Miguel Gonçalves Lima (“Mestre Miguel”) e Leopoldino Gomes de Melo (“Mestre Leopoldo”). Com o passar do tempo, ao colocar em prática seus saberes, o aluno tornou-se mestre e foi reconhecido popularmente como “o rei da Xô Boi”.
Com o seu falecimento, aos 79 anos, em 23 de junho de 2021, a arte foi herdada pelo filho Edmilson Rodrigues, que hoje mantém a tradição na confecção de Xô Boi, no ateliê Toca do Índio.
Chegança Comendador Peixoto - 2008 - Foto: reprodução/Duan Cícero/Arquivo de helio Fialho
O Navio Comendador Peixoto
Segundo a história do Baixo São Francisco, o navio a vapor Comendador Peixoto foi construído na Inglaterra para o rio Amazonas e foi trazido para Penedo para a Companhia de Navegação Peixoto, vindo fazer parte da navegação do Baixo São Francisco, interligando o porto de Penedo até Piranhas, última cidade ribeirinha em condições navegáveis para o porte da embarcação.
Todo de ferro, o Comendador Peixoto navegou pelo Rio São Francisco a partir de 1920, quando partiu do porto de Belém , no Pará, chegou a Penedo (AL) e se tornou um marco da navegação fluvial local nas décadas de 1950 e 1960. Ele afundou na década de 1960 e se encontra submerso ao lado do porto das balsas, em Penedo, mas a embarcação foi descoberta novamente em 2015 devido à baixa vazão do rio.
Navio a vapor Comendador Peixoto. Foto: Reprodução/Google.
Influência e apoio
Vale frisar que Pão de Açúcar é um dos municípios com maior produção cultural no estado de Alagoas. Na Terra de Jaciobá, cada filho é possuidor de vocação artística. E foi influenciada por estes cenários históricos e riquezas culturais que a vereadora Lena Machado (PMDB) teve a iniciativa de apresentar estes importantes projetos de lei, objetivando valorizar e reconhecer como patrimônio material, imaterial e histórico a Canoa Georgia, a Toca do Índio, a alpercata Xô Boi e a Chegança Comendador Peixoto. E para aprovação e sanção destes seus projetos, ela conta com o apoio de seus colegas vereadores e de alguns integrantes do Executivo municipal, incluindo o prefeito Jorge Dantas
Vereadora Lena Machado (MDB) - Foto: reprodução/Facebook.
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