Morreu em São Paulo, aos 101 anos, a pão-de-açucarense Genura Pereira Lima
A ‘mestra do cuscuz de arroz’ faleceu no dia 18 deste mês e foi sepultada no Cemitério Gethsemani, na última terça-feira (20).

Fonte: ARTIGO escrito Por Helio Fialho

Morreu em São Paulo, aos 101 anos, a pão-de-açucarense Genura Pereira Lima Foto: Reprodução/Cortesia
Faleceu, aos 101 anos, no último domingo (18), na capital paulista, onde morava há muitos anos, a anciã Genura Pereira Lima. “Dona Genura do Cuscuz de Arroz” ou “Dona Genura da Rua de Cima”, como era conhecida por nós, seus conterrâneos pão-de-açucarenses, era mãe de Irene, Abel, José (“Nadinho”) e Maria Helena (in memoriam). Os filhos da falecida, quando eram solteiros, usavam o sobrenome Gonçalves Lima.
Dona Genura teve sete irmãos: Batista (in memoriam), Manoel (in memoriam), Marieta (in memoriam), Francina (in memoriam), Rosinha (in memoriam), Umbelina (in memoriam) Moreninha e Beatriz, estando vivas somente estas duas últimas.
Segundo informações da família, o velório ocorreu no dia 20 (terça-feira), com início às 08h, no Cemitério Gethsemani, localizado na Rodovia Anhanguera – Km 23, 4 s/n – Vila Sulita, onde foi realizado o sepultamento, às 08h40min.
Muitos dos nossos conterrâneos pão-de-açucarenses imaginavam que dona Genura já havia falecido há muitos anos, porém, ela continuava viva e alcançou a longevidade extrema – porque ultrapassou um século de existência (*03/05/1924 +18/05/2025), com a permissão do Pai Eterno.
Antigo pilão de madeira. Reprodução/Google.
Uma guerreira de fé inabalável
Desde a minha infância aprendi a admirar esta cidadã do bem, que soube criar com dignidade seus quatro filhos (dois homens e duas mulheres). Logo cedinho, a mando dos meus pais, eu saia de casa em direção à residência de dona Genura, que morava na casa que fica esquina com a antiga Cadeia Pública e vizinha da residência de tia Julieta (in memoriam). E lá estava a “mestra do cuscuz de arroz” trabalhando duro para sustentar a família. Em um antigo pilão feito de tronco de madeira, ela descascava o arroz colhido em uma das lagoas da cidade, para, depois, moer o arroz até virar farinha. Em um ralo artesanal (de flandres), ela ralava vários cocos e extraia o leite para umedecer os pequenos e saborosos cuscuzes, que eram confeccionados a base de farinha de arroz e coco ralado, uma mistura que a mestra sabia dosar com perfeição. E depois da massa pronta, ela utilizava um cuscuzeiro (de flandres) que tinha várias pequenas formas acopladas. Dentro do cuscuzeiro tinha água, para o vapor cozinhar os cuscuzes quando a água começasse a ferver, no velho fogão de alvenaria.
Recordo, também, que na labuta de preparação da massa, dona Genura era auxiliada por uma de suas filhas (às vezes Irene, às vezes Maria Helena).
Antigo moinho manual doméstico Foto: Reprodução/Google
E depois de atender aos muitos fregueses que procuravam à sua residência para adquirir o delicioso e famoso cuscuz, outros tantos eram enfileirados dentro de uma bandeja retangular de alumínio, para o filho “Nadinho de Genura” fazer entrega a outros clientes espalhados pela cidade.
A procura do produto era tão grande que a quantidade produzida era insuficiente para atender à demanda. Isso fazia com que Nadinho retornasse logo para sua casa, para reabastecer a bandeja, que novamente retornava vazia. Aos sábados e domingos, pela manhã, esta cena se repetia duas ou três vezes, pois eram dias reservados para as famílias pão-de-açucarenses ficarem por mais tempo dentro de suas casas. Isso fazia aumentar as vendas.
O que mais me impressionava em dona Genura, era o fato de ela sempre trabalhar cantando músicas sacras que costumava cantar na Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, durante as missas das quais ela sempre estava a participar, como integrante do Apostolado da Oração. Geralmente as devotas usam uma fita vermelha estreita com uma medalha e escudo do Sagrado Coração de Jesus.
Antigo ralo ou ralador doméstico. Foto: Reprodução/Google
Ao escrever este texto, recordo dona Genura passando em direção à igreja, na Avenida Bráulio Cavalcante. Nas minhas lembranças, a vejo trajando um vestido azul marinho e com uma fita vermelha envolta ao pescoço, o bastante para identifica-la uma devota católica. E não consigo recordar dona Genura irritada ou estressada durante sua árdua labuta cotidiana. Recordo sim, de dona Genura portadora de muita calma e expressando uma paz interior contagiante. Que mulher guerreira! Que mulher de fé! Que cidadã iluminada!
Com o passar do tempo, aprendi a fazer cuscuz de arroz, mas não tão saboroso quanto os que eram feitos por dona Genura. E sempre que cozinho a saborosa guloseima, logo invadem-me as lembranças dos cuscuzes de arroz de dona Genura – esta devota que, depois de cumprir sua missão de 101 anos aqui no planeta Terra, foi chamada pelo Pai Poderoso para morar na Mansão Eterna. Com certeza, mudou-se para um lugar muito especial, reservado para esta mulher forte, corajosa e determinada, que lutou por seus objetivos e não desistiu diante das dificuldades, superando obstáculos e alcançando seus sonhos, mostrando resiliência, força de vontade, amor ao familiares e temor a Deus. Ela fez jus ao significado do próprio nome: garra, intuição, lógica, saber, versatilidade.
Fita vermelha estreita com uma medalha e escudo do Sagrado Coração de Jesus. Foto ilustrativa. Reprodução/Google.
Descanse em paz, mestra Genura, na Mansão de Luz. A sua imortalidade foi conquistada através de seus méritos!
E enquanto restar uma pessoa a cozinhar um caprichado e saboroso cuscuz de arroz, a senhora sempre será lembrada. Perpétua saudade.
Minhas sinceras condolências à família enlutada.
Dona Genura, já apresentando problemas de saúde, porém forte e otimista. Foto: Reprodução/Cortesia
(Matéria atualizada às 11h13min do dia 25 de maio de 2025, para incluir o nome da senhora Umbelina no rol das irmãs de dona Genura).
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