ANA autoriza redução da vazão da barragem de Sobradinho para 550 m³
Medida foi publicada no Diário Oficial da União nesta terça-feira (18). Segundo ambientalistas, os impactos ambientais serão mais graves por causa desta vazão.

Proliferação de mexilhão-dourado em tubulação/Imagem ilustrativa Foto: Reprodução/Divulgação
Mais uma vez a Agência Nacional das Águas (ANA) autorizou que CHESF (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) reduza a vazão defluente mínima da barragem de Sobradinho, na Bahia, para 550 m³. O Diário Oficial da União publicou, nesta terça-feira (18), a medida.
Inicialmente, a vazão mínima permitida era de 1.300m³/s e, motivada pela crise hídrica, foi sendo reduzida de acordo com as autorizações da ANA, estando, desde 29 de maio deste ano, em 600m³/s, considerada o menor índice desde que o reservatório começou a operar em 1979.
A nova redução deve ocorrer até 30 de novembro deste ano. Segundo a portaria da ANA, caso seja identificado comprometimento aos usuários durante a redução das vazões, a descarga deve ser elevada para o patamar de vazão anteriormente praticado.
Com as contínuas reduções, os impactos ambientais no rio São Francisco têm sido gravíssimos e preocupa muito os ambientalistas e pesquisadores do Velho Chico porque os prejuízos causados são incalculáveis.
Segundo os ambientalistas, cada vez que se reduz a vazão, a calha do rio fica mais rasa e estreita e, com isso, aumenta o assoreamento. E com o volume de água cada vez menor, devido às reduções da vazão, os esgotos domésticos e industriais continuam derramando enormes quantidades de dejetos dentro do rio, poluindo, assim, suas águas, e fazendo surgir muitas doenças por causa da contaminação, a exemplo dos estranhos vermes que apareceram, no dia 5 de maio deste ano, em Penedo, área do rio localizada no Baixo São Francisco.
Segundo, o ambientalista da Sociedade Socioambiental Canoa de Tolda, Carlos Eduardo Ribeiro, outra consequência drástica das reduções contínuas da vazão defleunte das barragens de Sobradinho e Xingó, é a proliferação do perigoso molusco bivalve (de duas conchas) mexilhão-dourado, que ao longo do Baixo são Francisco vem danificando motores de embarcações e tubulações dos sistemas de abastecimento de água, devido a sua capacidade rápida de reprodução.
Para quem não sabe, o mexilhão-dourado é uma espécie invasora, com grande capacidade de incrustação, com rápida taxa de crescimento e grande força reprodutiva.
Em alguns locais podem ser encontradas concentrações de mais de 40 mil mexilhões por metro quadrado. Sem inimigos naturais, sua presença nos ecossistemas brasileiros vem provocando importantes danos ambientais e econômicos.
Atualmente, com a fragilização da calha do rio São Francisco, uma consequência da escassez de chuva nas cabeceiras do Velho Chico e seus afluentes e, ainda, as reduções das vazões de barragens, principalmente as localizadas nas regiões do Médio e Baixo São Francisco, o mexilhão-dourado está presente em grandes densidades.
Alertas em vão
Sobre o aparecimento do mexilhão-dourado no Baixo São Francisco, o ambientalista Carlos Eduardo Ribeiro declarou à reportagem do Notícia Quente, que a Sociedade Socioambiental Canoa de Tolda Alertou oficialmente aos órgãos ambientais estaduais e federais, porém nenhuma providência foi tomada, até agora, para conter a invasão desta espécie de molusco tão nociva à vida do Velho Chico.
“O rio muito raso e suas águas sem correntezas é o ambiente propício para a multiplicação indiscriminada do mexilhão-dourado, uma das tristes consequências dos impactos ambientais causados pelas vazões autorizadas pela ANA, com o apoio da CHESF, Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e outros órgãos”, finalizou o ambientalista Carlos Eduardo Ribeiro.
É importante destacar, que o ambientalista Carlos Eduardo Ribeiro é integrante da Sociedade Socioambiental Canoa de Tolda, entidade que há mais de 20 anos luta em defesa do rio São Francisco, executando projetos importantes de recuperação e preservação ambiental e cultural na Região do Baixo São Francisco.
Atualmente o ambientalista e pesquisador do rio São Francisco atua como coordenador da Reserva Ambiental Mato da Onça, localizada no Sítio Mato da Onça, localidade ribeirinha pertencente ao município de Pão de Açúcar.
Reserva Ambiental Mato da Onça
Na Reserva Ambiental Mato da Onça, o árduo trabalho de recuperação e preservação das espécies da flora e fauna que fazem parte do bioma do Velho Chico é de valor incalculável para esta e futuras gerações.
Embora com pouquíssimo ou quase nenhum apoio dos órgãos governamentais, principalmente do estado e município, a Reserva Ambiental Mato da Onça continua com suas ações sendo executadas e tem recebido visitas importantes de representantes internacionais, pesquisadores, ambientalistas, professores, estudantes secundaristas e universitários, os quais vêm conhecer de perto o extraordinário trabalho nela desenvolvido.
Fato lamentável é a precariedade da estrada de acesso ao local, o que impede um fluxo maior de visitantes à Reserva. Diversos pedidos já foram formulados à Prefeitura de Pão de Açúcar, por meio de ofício e, ainda, através de reuniões, porém, até agora, a insensibilidade dos gestores municipais não os fazem enxergar a grande importância deste lugar.
E, por conta da insensibilidade e falta de atenção dos gestores municipais, a estrada de acesso à Reserva Ambiental Mato da Onça fica intransitável porque as máquinas oficiais da Prefeitura de Pão de Açúcar não foram liberadas para a realização do tão necessário serviço de terraplenagem.
Em 2016, por solicitação oficial do coordenador Carlos Eduardo Bezerra, a Prefeitura de Pão de Açúcar iniciou o serviço de recuperação da estrada, porém, no mesmo dia, sob a justificativa que a máquina havia quebrado durante a realização dos serviços, suspendeu a melhoria da estrada e, até a presente data, o caos continua.
Com este descaso registrado pelo autor deste blog, pode-se afirmar que o Velho Chico e todo o seu patrimônio natural continuam sendo desrespeitados, abandonados e ignorados pelas autoridades competentes. Fato lamentável!
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