A descaracterização das festividades juninas provocada pelo abandono do forró raiz
Nas festas de Santo Antônio, São João e São Pedro, atrações das músicas sertaneja e brega ocupam o lugar dos cantores de forró de raiz.

Fonte: Por Helio Fialho

Atrações das músicas sertaneja e brega ocupam o lugar dos cantores de forró de raiz. Foto: Reprodução/Google
Os festejos juninos estão sendo descaracterizados porque os gestores municipais, estaduais, federais e empresários estão deixando de contratar os autênticos forrozeiros e contratam atrações sertanejas e bregas, provocando, com isso, desemprego, muita insatisfação e revolta na classe dos artistas forrozeiros raiz.
No dia 06 deste mês, na Capital do Forró, a cantora Elba Ramalho chegou a comentar este assunto durante seu show. Estive em Caruaru, nos dias 20 e 21 de junho deste ano, e pude sentir de perto a triste realidade, no Pátio de Eventos Luiz Gonzaga.
De maneira lamentável, esse "modismo" invadiu as festas juninas nos municípios do Nordeste. E a juventude, desprovida de conhecimentos sobre a importância da preservação de tradições e costumes, vai aceitando essa coisa absurda – porque o mais importante é se divertir – e para tal fim, qualquer pão e circo satisfaz, pois, para os jovens de hoje, o mais importante é ter festa e, por isso, é irrelevante manter a essência e as tradições.
É público e notório que em eventos, festas e rádios, o forró raiz está sendo substituído por outros gêneros musicais, com menor espaço para artistas e músicas tradicionais. Esse abandono pode ser visto como uma perda da identidade cultural nordestina, que tem no forró uma de suas expressões mais marcantes
Em protesto a esse grande desrespeito ao Forró Raiz, o artista cearense Rômulo Santaray, ex-cantor da famosa banda Mel com Terra, gravou a música (forró), “Respeito ao meu São João”. No vídeo, que está viralizando nas redes sociais, ele começa dizendo: “Não é um ataque protesto... é apenas um cantar lembrete, para muitos pedidos”. E, logo em seguida, ele canta: “Sou forrozeiro... nunca cantei num rodeio... nem pro Carnaval do Rio vieram me convidar... não sou metido e tampouco enxerido... eu não vou na sua casa sem convite pra entrar... não me chamaram para um festival de rock... nem pra animar com sorte o boi bumbá de Parintins... eu sou assim... espero que você se toque... eu não vou na sua festa... se a festa não for pra mim... respeito é bom... respeito pra ser respeitado... meu São João tá tão mudado... traz o meu São João pra mim...”
Se não defendermos a exclusividade do "forró de raiz" nos festejos juninos, a situação tende a agravar-se. E se depender dos jovens de hoje, completamente viciados em smartphone, logo, logo, no Nordeste e Sertão, o funk irá tomar o lugar do forró de raiz, nas festas de Santo Antônio, São João e São Pedro.
Não podemos esquecer a descaracterização das quadrilhas juninas que, a partir dos idos de 1990, foram estilizadas e ganham inovações a cada ano. E, apesar de tanta beleza, elas tomaram o lugar das quadrilhas matutas originais. E o que vemos hoje não são simples quadrilhas juninas e sim grupos culturais arrojados que se apresentam em quaisquer eventos. São belas quadrilhas que até disputam concursos famosos e televisados, porém, perderam a originalidade dos festejos juninos do passado. E se isso significa evolução e modernidade, significa, também, descaracterização e inversão de valores.
Na minha opinião, urge os conselhos municipais e estaduais de Cultura, bem como, os órgãos e as entidades vinculados à Cultura, manifestarem apoio aos artistas forrozeiros e aos movimentos em defesa do "forró de raiz" durante os festejos juninos no Nordeste, por meio de campanhas educativas e outras, pois, se essa inversão continuar, muito em breve os "bicheiros" estarão financiando as apresentações de quadrilhas. Até porque, há quem diga, que os “bicheiros” lidam muito com quadrilhas.
Sem dúvida alguma, se essa inversão continuar sem combate, não vai demorar para a indumentária de cangaceiro e o traje matuto darem lugar ao maiô e biquíni (fio dental) e a sanfona dar lugar à cuíca, nas tradicionais festas de Santo Antônio, São João e São Pedro. Alguém duvida?
Preocupado com esta triste realidade, saio em defesa do forró de raiz e aqui faço uso da velha expressão, que muito ouvi nos meus tempos de menino: “Cada macaco no seu galho!”
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